Abre-alas para a internet das coisas


Em 2010, o então premiê chinês, Wen Jiabao, anunciou que a chamada "internet das coisas" seria a escolha prioritária para o desenvolvimento do país nos próximos anos. O nome é autoexplicativo: trata-se da possibilidade de conectar não só pessoas como objetos à internet.

Tudo passa a fazer parte da rede. Itens cotidianos, como geladeiras, TVs ou veículos, ou produtivos, como maquinário, vagões de trem, rebanhos, plantações, plataformas de petróleo, e assim por diante.

Para isso, a China foi firme na sua escolha. O Ministério da Indústria e Tecnologia da Informação lançou seu 12º plano de desenvolvimento quinquenal (décimo segundo!) totalmente focado em internet das coisas. Tudo com métricas bem definidas.

Para isso, foi criado um fundo especial para custear pesquisa e desenvolvimento de aplicações e serviços na área. Só em 2014, o investimento no setor totalizou US$ 1,6 bilhão. Foram também implementadas políticas fiscais para software, serviços de armazenamento em nuvem (essenciais para essa área) e fabricantes de circuitos integrados.

Foi lançado também o programa "Internet+", com o objetivo de promover a integração da rede com negócios tradicionais, da manufatura à agricultura. A premissa é que a rede gera eficiência e competitividade em todas as áreas em que se integra funcionalmente.

Nesse processo, a China não descuidou de nada. Criou um comitê para definir padrões de interoperabilidade para as aplicações de internet das coisas. Colheu o resultado em 2012, quando a União Internacional das Telecomunicações aprovou o primeiro standard chinês, resultado do trabalho conjunto que uniu governo, setor privado e academia. Foram escolhidas 200 cidades chinesas para se tornarem "inteligentes", valendo-se desse tipo de tecnologia, incluindo grandes centros como Pequim, Xangai e Gangzhou.

O resultado positivo do esforço tornou-se visível em 2015. O valor de mercado do setor de internet das coisas no país atingiu naquele ano US$ 80 bilhões. A projeção é que em 2020 o valor chegue a US$ 163 bilhões.

Para alcançar esses resultados, o governo não trabalhou sozinho. Envolveu as operadoras de telefonia e internet locais como parceiras no projeto. Costurou também a colaboração entre elas e o setor automotivo, apostando forte nos chamados "carros conectados".

Boa parte dos carros chineses sai hoje de fábrica conectada à internet por meio de redes 4G, com uma série de serviços embarcados. Isso fomentou um ecossistema de desenvolvedores de aplicativos locais. Apostou também no setor elétrico, com a instalação de medidores digitais inteligentes e "smart grids", trazendo mais eficiência e melhor gestão da oferta e demanda de energia.

Já no Brasil, podemos dar saltos de inovação também. Basta superarmos a máxima "nenhum vento ajuda quem não sabe a que porto veleja".

Ronaldo Lemos - advogado e diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro ronaldo@itsrio.org

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