FUNDOS DE PENSÃO AUSTRALIANOS FAZEM PRESSÃO POR MAIS MULHERES EM CARGOS DIRETIVOS NAS EMPRESAS


O maior fundo de pensão da Austrália já começou a votar contra a reeleição de diretores em empresas desprovidas de representação feminina nos conselhos. Trata-se de um esforço conjunto da indústria de superannuation (AU$ 2,2 trilhões sob gestão) para promover a diversidade de gênero.

Neste mês, o fundo AustralianSuper, que administra cerca de AU$ 110 bilhões (US$ 82 bi) em ativos para 2,2 milhões de participantes, votou contra a reeleição de Martin Rowley, presidente da Galaxy Resources, na reunião anual da mineradora sediada em Perth. Em abril, o fundo já havia votado contra a reeleição de Marcelino Fernandez Verdes para a presidência do grupo CIMIC, que reúne empresas de construção e cujo patrimônio chega a US$ 13 bilhões.

Ambos os executivos acabaram sendo eleitos a despeito dos esforços do fundo, que prometeu continuar defendendo mudanças. No ano passado, a entidade chegou a enviar correspondência a dezessete empresas listadas na bolsa com diretorias totalmente masculinas para alertá-las de que poderiam estar sujeitas a medidas similares caso não indicassem mulheres para os conselhos.

 “Acreditamos que a diversidade não é apenas uma questão social, mas de valor. Grupos diversificados alcançam resultados superiores ao de grupos pouco diversos”, afirmou Ian Silk, CEO do AustralianSuper, ao Financial Times.

“Nosso objetivo é otimizar o valor das empresas a fim de beneficiar os nossos participantes. Não queremos arrumar problemas pura e simplesmente”, acrescentou.

A pressão por diversidade de gênero faz parte de uma abordagem mais ampla a favor da adoção de critérios ambientais, sociais e de governança da indústria de fundos de pensão da Austrália, a quarta maior piscina de ativos previdenciários do mundo. O setor, que recebe contribuições obrigatórias dos empregadores, tem utilizado cada vez mais o seu poder financeiro para influenciar as políticas de governança das empresas.

A diversidade de gênero vem adquirindo importância na agenda política da Austrália nos últimos anos. Em 2015, o Instituto Australiano de Diretores de Empresas (Australian Institute of Company Directors - AICD) estabeleceu voluntariamente a meta de ter, até 2018, 30% de participação feminina nos conselhos.  

Tal compromisso associado à crescente pressão dos fundos nas empresas investidas fez com que a representação feminina nos conselhos passasse de 21,7%, em 2015, para 25,3% em 2016 - o maior nível de participação da região da Ásia-Pacífico. Cerca de treze empresas que compõem o índice ASX 200 não possuem diretoras segundo números fornecidos pela AICD.

O Australian Council of Superannuation Investors, grupo que congrega fundos de pensão que detêm 15% das ações de companhias integrantes do índice ASX 200, estabeleceu como meta própria o alcance de 30% de representação feminina nos conselhos até 2017.

Louise Davidson, CEO do Australian Council of Superannuation Investors, disse que o organismo recomendou que suas associadas comecem a votar contra diretores de empresas que não tenham atingido a meta estipulada pelo conselho na temporada de assembleias gerais que se inicia em setembro.

“Sentimos que o progresso em termos de diversidade de gênero tem sido muito lento e que as empresas estão perdendo enormes talentos”, disse ela.

A campanha iniciada pelos fundos de pensão tem chamado a atenção dos conselhos de administração das empresas. Seis das dezessete companhias que receberam cartas do fundo AustralianSuper sobre a falta de mulheres nos colegiados - Aveo, Flexigroup Limited, Galaxy Resources, Independence Group, Regis Resources e Western Areas - recentemente elegeram diretoras para os conselhos.

Uma das treze empresas do índice ASX 200 informou ao Financial Times que está em processo de renovação do conselho e que espera eleger representantes do sexo feminino.

Jake Klein, diretor executivo da Evolution Mining, afirmou que o conselho da mineradora de ouro já é diversificado, embora reconheça a necessidade de incluir a diversidade de gênero. “Já iniciamos esse processo e esperamos nomear uma nova diretora não-executiva até o final do ano”.

A empresa Qube Holdings, que também está em processo de renovação de seu conselho (composto integralmente por homens), disse estar “comprometida com a nomeação de diretores e funcionários com base no mérito, levando em conta aspectos mais amplos de diversidade, incluindo a diversidade de gênero”.



Financial Times
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