PORTUGAL: O COMPONENTE ITALIANO


Os fundos de pensão portugueses têm obtido melhores níveis de retornos, recuperando-se, em 2017, do mau desempenho de 2016, sobretudo no mercado de renda fixa.

De acordo com a Willis Towers Watson, embora os fundos de pensão ocupacionais tenham alcançado retornos médios de apenas 0,2% no segundo trimestre de 2017, a rentabilidade nos doze meses anteriores a junho foi de 2,7%.

A análise baseou-se em dados de mais de 100 fundos de pensão (ocupacionais), o equivalente a 80% do mercado fechado, incluindo as cinco maiores entidades do país.

De acordo com a Associação Portuguesa de Fundos de Investimento, Fundos de Pensão e Gestão de Ativos (APFIPP), as carteiras dos fundos de pensão ainda estão fortemente concentradas em dívida (51,7% dos portfólios, com participações diretas e indiretas). Os números referem-se a 88% do mercado português no final de março. As ações representavam 22,8% e os imóveis 13,1% das carteiras.

Mas apesar de terem boas expectativas em relação ao mercado acionário, os gestores estão reduzindo o peso da classe de ativos nas carteiras.

Luis Alvarenga, gerente de portfólio da BPI Gestão de Ativos (BPIGA), afirmou: “Após a forte alta nos mercados de ações europeus nos últimos 12 meses, reduzimos a participação acionária em nossas carteiras. Isso porque as boas notícias já foram precificadas. Ou seja, a incerteza política na Europa diminuiu e as perspectivas de lucro das empresas e de crescimento econômico voltaram a melhorar. Na renda fixa, ele diz que a BPIGA manteve o portfólio, mas com uma maturidade mais curta que o benchmark, evitando duration muito longas.

João Eufrásio, diretor e chefe de gestão de carteiras institucionais da BMO Global Asset Management Portugal (BMO GAM), diz: “Na renda fixa, onde os investidores vão buscar rentabilidade, ainda encontramos algumas oportunidades no mercado interno, especialmente em participações privadas e papeis quase-soberanos. Recentemente, os mercados emergentes apareceram como boas oportunidades de diversificação”.

As consequências da decisão do Reino Unido de deixar a UE e a sua saída propriamente dita não parecem influenciar as decisões de alocação de ativos. A APFIPP estima que os investimentos no Reino Unido representem cerca de 3% do total de ativos dos fundos de pensão portugueses.

 

Receio italiano

 

Se o Brexit não é visto como um problema, o mesmo não acontece com os bancos italianos.

 

 “Os planos de pensão portugueses tendem a investir consideravelmente em títulos europeus com elevada rentabilidade, como os portugueses, espanhóis, italianos e gregos”, diz José Marques, consultor sênior da Willis Towers Watson. “Isso, claro, expõe o investidor a níveis mais altos de risco, o que é bom desde que os planos estejam bem diversificados. No entanto, alguns planos possuem investimentos relevantes em dívida do governo italiano.”

“Se os mercados perderem a confiança na economia italiana, a rentabilidade aumentará ainda mais e os títulos perderão valor, acarretando perdas para os planos que não estiverem bem diversificados”, adverte Marques.

Na opinião de Eufrásio, “não se trata apenas dos problemas do sistema bancário italiano e seu enorme volume de empréstimos improdutivos, mas da instabilidade política e do crescimento econômico anêmico do país, aspectos que fizeram com que a BMO GAM adotasse uma postura mais cautelosa em relação aos ativos italianos e, especialmente, os títulos do governo, que devido a esses fatores apresentam maior volatilidade e aumento dos spreads”.  

De olho no futuro, Alvarenga vê mais alocações em economias emergentes e desenvolvidas, o que, segundo ele, deve dar suporte aos ativos de risco. “A nossa expectativa é que os ganhos tenham um ligeiro aumento em face do forte crescimento econômico e do menor risco político na Europa, além das medidas tomadas pelo Banco Central Europeu.”  

José Veiga Sarmento, presidente da APFIPP, também demonstra otimismo: “Com bons resultados provenientes da zona do euro, é possível que as ações europeias possam voltar à pauta”, diz ele. “Além disso, o comportamento positivo da economia portuguesa pode influenciar as escolhas dos gestores.” 



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